Ciúmes: você provavelmente já sentiu a presença desse monstro na sua vida. Mas pra quê ele serve?
Segundo Maurício Silveira Garrote, médico especialista em Psiquiatria Clínica pelo HC FMUSP, o ciúme é o medo do desamparo. Ele explica: “Em termos cronológicos, a primeira experiência que temos do ciúme é quando temos um irmão/irmã. Éramos únicos no universo da nossa mãe, e aí aparece aquela coisinha linda, pequenininha, fofa, um irmãozinho”.
Ele também explica a origem desse sentimento no nosso psicológico: “Essa ameaça dentro de nós se configura aos poucos em ameaça à própria existência, afinal, se a minha mãe não cuida de mim, quem vai cuidar? Provavelmente, há milhões de anos, um antepassado viveu essa ‘concorrência’ como ameaça a sua existência”.
Ou seja, esse sentimento tem uma explicação evolutiva. Mas qual a vantagem para nós, hoje, do ciúme afetivo?
Roque Brito Alves, em seu livro “Ciúme e Crime, Crime e Loucura”, o ciúme é a manifestação de um profundo complexo de inferioridade de certa personalidade, sintoma de imaturidade afetiva e de um excessivo amor-próprio, porque o ciumento não se sente somente incapaz de manter o amor e o domínio sobre a pessoa amada, de vencer ou de afastar qualquer possível rival, sobretudo, se sente ferido ou humilhado em seu amor próprio: “Dessa forma, ao sentir ciúmes, o sujeito está demonstrando possuir um sentimento de inferioridade, onde acredita ser impossibilitado de nutrir o amor da parceira e sente-se ameaçado com qualquer possível rival, além de ao mesmo tempo apresentar um demasiado grau de amor próprio”, explica Andréia Piccinin em seu artigo “O Ciúme: Suas Causas e Consequências nos Relacionamentos Conjugais”.
A verdade é que a experiência de ser abandonado por alguém que amamos é uma das formas mais básicas do desamparo, e é universal: todo mundo passa ou já passou por lá. O que faz a diferença é como lidamos com essa sempre nova ameaça de perdermos quem amamos para outra pessoa, afinal, o ciúme nunca é saudável, nem para quem sente, nem para quem convive com alguém que sente.
Aquela velha história de que ciúme é uma forma de demonstrar carinho e afeto é uma mentira porque o ciúme, afinal, gera sensações horríveis. A forma mais eficaz de demonstrar sentimento é se preocupar com a outra pessoa, ligar para ela para perguntar como ela está, querer fazê-la feliz, fazê-la sorrir, compartilhar seu dia com ela e viver boas memórias.
O ciúme não te faz viver nada disso, então, quer saber como lidar com esse sentimento? Se liga nessas dicas:
Reconheça o sentimento
Assim como alguém que sofre de algum problema psicológico ou vício deve reconhecer que precisa de ajuda para melhorar, uma pessoa que sofre com ciúmes deve fazer a mesma coisa e reconhecer o sentimento.
Por exemplo: você e sua namorada estão brigando frequentemente e você não consegue entender as razões pelas quais isso acontece? Pode ser ciúme. Comece a reparar nos motivos de cada briga e, em um plano maior, você vai enxergar se as pequenas brigas são causadas pelos ciúmes que você sente. Quando enxergar isso, vai ser mais fácil vencer o problema.
Como falamos acima, ciúme tem tudo a ver com falta de confiança e a ideia de que relacionamento é posse. Você precisa entender isso e eliminar a ideia romântica de ciúme se quiser vencer a crise e salvar seu relacionamento.
Aliás, também é importante diferenciar o que realmente está acontecendo do monstro que você alimenta com os ciúmes que sente. Na maioria das vezes, quem cria esse monstro é exatamente você.
Controle os seus impulsos
O ciúme pode matar, te deixar maluco, acabar com a sua vida. A verdade é essa, então, pra quê alimentar isso? É claro que a raiva te faz falar e sentir coisas que não são sinceras, mas, mesmo assim, é importante respirar fundo e se acalmar para não dizer ou fazer algo e se arrepender depois.
Já falamos de algumas técnicas para relaxar em momentos difíceis e controlar a sua raiva. Mas, em resumo, nas horas que você achar que vai pirar, pare e pense! Respire e espere ficar mais calmo para conversar com a pessoa que você gosta.
Cuide quando a pessoa quiser e precisar
Ninguém quer que você abaixe a cabeça e deixe sua parceira na mão, mas existe uma diferença entre ciúmes, sentimento de posse e controle e você realmente cuidar da pessoa que você ama.
Por exemplo: se você estiver em uma festa e um cara chegar na sua namorada de um jeito absurdo, segurando ela pelo braço e tentando dar um beijo, é claro que você vai se aproximar e ajudar ela a se livrar do cara. O mesmo vale para homens que estão assediando a sua parceira em qualquer lugar.
Porém, você não pode pirar quando um amigo da sua namorada curtir uma foto dela no Facebook, ou conversar com ela no WhatsApp. Pessoas têm amigos e amizades, você não deve enlouquecer por isso.
Converse
Muitas vezes, você cria coisas loucas na sua cabeça e acredita em maluquices que o seu próprio ciúme causou. Como resolver isso? Brigando com a sua namorada? Se fechando? Acabando o namoro? Não, conversando. Na maioria das vezes, a piração não tem embasamento e é apenas fruto da sua cabeça.
Por isso, converse honestamente com a sua parceira, ela deve ser sua amiga e você deve confiar nela, assim como ela deve confiar em você para o relacionamento funcionar. Não tenha medo, abra o jogo e se apoie na pessoa que você ama, você não vai se arrepender.