O Lucro das montadoras e o imposto do governo faz brasileiro pagar o carro mais caro do mundo

Levantamos os principais argumentos para você entender de quem é a culpa pelo custo abusivo dos carros no país

É de sabedoria popular que os automóveis vendidos no país são muito mais carros do que em qualquer outra parte do mundo. Mas, você já se perguntou quem são os responsáveis por esse preço abusivo?

Antes de dar sua resposta, levantei os principais argumentos para você levar em consideração.

Impostos abusivos

Os principais argumentos das montadoras para justificar o alto preço do automóvel vendido no Brasil são a alta carga tributária e a baixa escala de produção. A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somado ao custo de produção (encargos trabalhistas), que oneram a produção.

Segundo a Anfavea, a carga tributária no País varia entre 37,2% e 43,7% do valor do automóvel. Com os encargos menores embutidos no valor final, ela sobe oscilando entre 48,2% e 54,8% do preço final do veículo. Para comparar, a associação cita os impostos que incidem sobre a venda de automóveis em outros países.

Para você ter ideia de comparação: na Itália os impostos representam 22% do valor; nos Estados Unidos são 7,5%; na Alemanha são 19%; e no Japão são 5%. O custo é muito alto no Brasil mesmo considerando apenas nossos vizinhos da América Latina, com 16% no México, 19% no Chile e 21% na Argentina.

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Um exemplo prático é o lançamento do Honda City no México, em 2011. O sedan brasileiro, produzido na fábrica da Honda localizada em Sumaré – SP chegou ao mercado mexicano com o preço equivalente a menos da metade do cobrado no Brasil.

Por lá, a versão de entrada será oferecida por 197 mil pesos mexicanos, o que equivale a cerca de R$ 25.800. No Brasil, o City LX com câmbio manual (versão de entrada) que não conta com freios ABS, tem preço sugerido de R$ 56.210.

E altas taxas de lucro

Já o governo, por sua vez, aponta o dedo para as montadoras, alegando as altas taxas de lucro praticadas por aqui, muito maior do que em outros países.

Uma pesquisa feita pelo banco de investimento Morgan Stanley, da Inglaterra, mostrou que algumas montadoras instaladas no Brasil são responsáveis por boa parte do lucro mundial das suas matrizes e que grande parte desse lucro vem da venda dos carros com aparência fora-de-estrada (off-road).

O Banco Morgan concluiu que esses carros são altamente lucrativos, têm uma margem muito maior do que a dos carros dos quais são derivados. Os técnicos da instituição calcularam que o custo de produção desses carros, como o CrossFox, da Volks, e o Palio Adventure, da Fiat, é 5 a 7% acima do custo de produção dos modelos dos quais derivam: Fox e Palio Weekend. Mas são vendidos por 10% a 15% a mais.

Cobra quem pode, paga quem não tem juízo

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Segundo um dirigente do setor, quando um carro não tem concorrente direto, a montadora joga o preço lá pra cima para tentar posicionar o produto em um patamar mais alto. Se o público aceitar pagar o preço, colou. Caso contrário, a marca resolve dar bônus à concessionárias até reposicionar o modelo em um preço que o consumidor está disposto a pagar.

Um exemplo que revela esse comportamento do mercado foi com um pedido que a Kia fez à matriz coreana de dois mil Sportage por mês (2011), um volume que, segundo seus dirigentes, o mercado brasileiro poderia absorver. O preço fixado era de R$ 75 mil. Às vésperas do lançamento soube que a cota para o Brasil tinha sido limitada a mil unidades.

A clara lei da oferta e da procura entrando em ação: mais gente querendo uma quantidade de produto mais restrita.

A importadora, então, reposicionou o carro num patamar superior, para R$ 86 mil. Aí entra a pergunta: pra que vender por R$ 75 mil se tem fila de espera pra comprar por R$ 86 mil? A versão com câmbio automático acabou sendo vendida a R$ 93 mil, e a fila de espera elevou o preço para R$ 100 mil no mercado paralelo.

Afinal, de quem é a culpa?

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Tanto o governo quanto a montadora têm culpa sobre o alto custo do automóvel no Brasil. Além disso, o consumidor também tem a sua parcela de responsabilidade, já que mesmo com o preço abusivo, ele não só compra, como faz fila frente às concessionárias para adquirir os bólidos mais requisitados.

Como seria o preço do automóvel sem imposto?

Para você ter certeza disso, calculamos o preço dos carros mais vendidos no Brasil em cada segmento sem os impostos (ou seja, com 54,8% menos) para você ter uma pequena ideia do quanto está pagando a mais (ou poderia economizar) pelo mesmo veículo. Se você ainda embutir a margem de lucro maior que as montadoras colocam nos bólidos brasileiros (entre 5 a 10%), verá que chegam a pagar muito mais que o dobro do preço real.

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O Chevrolet Onix iria de R$ 38.990 para R$ 17.623

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O sedã Chevrolet Prisma iria de R$ 45.190 para R$ 20.425

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O hatch Volkswagen Golf passaria de R$ 74.590 para R$ 33.714

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O Toyota Corolla baixaria de R$ 68.740 para R$ 31.070

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O Honda Fit iria de R$ 54.900 para R$ 24.814

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A Fiat Weekend teria seu preço reduzido de R$ 51.620 para R$ 23.332

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O Jeep Renegade passaria de R$ 68.990 para R$ 31.183

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A picape Fiat Strada iria de R$ 43.150 para R$ 19.503

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A picape Toyota Hilux passaria de R$ 130.960 para R$ 59.193

Links para entender melhor:

Estadão
Correio do Estado

iCarros
Notícias Automotivas

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Leonardo Filomeno
Leonardo Filomeno

Jornalista, Sommelier de Cervejas, fã de esportes e um camarada que vive dando pitacos na vida alheia

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